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O trabalho mais legal que eu já fiz na vida

sexta-feira, 12 de junho de 2015

A professora de Filosofia mandou a gente escrever uma carta para si mesmo, em algum período da vida. E essa foi a minha carta:

 Anita Vargas – turma 31 – nº USP 9379062


Oi, menina. Sim, você mesma, que acabou de escrever no cantinho superior direito do caderno a data de hoje. 27 de novembro de 2014. Eu tenho algumas coisas para te dizer. Sei exatamente o que você está sentindo agora. Sabe por que? Porque já passei por tudo isso. Estou escrevendo em junho de 2015. E você não vai acreditar no que vou te contar agora.

Novembro está acabando e você sabe que, pela primeira vez em anos, não vai ser só a página do calendário que vai chegar ao fim. E é isso que te assusta, não é?  De uma hora pra outra, as pessoas que fazem parte da sua rotina há tanto tempo, não vão mais estar presentes nas histórias que você conta quando alguém pergunta como foi seu dia. Eu sei, é horrível essa sensação de não ter certeza de onde você vai estar daqui há dois meses.

Eu queria te dizer que não é preciso correr contra o tempo. Vocês caminharão juntos. De mãos dadas. Você vai chegar à conclusão de que ele não é seu inimigo. Tudo bem, quando demora pra passar é extremamente insuportável. Só não tão insuportável quanto a dor de passar rápido demais aqueles momentos onde tudo que se quer é um segundo a mais. Mas o tempo só cumpre sua função: fazer a gente valorizar cada segundo de nossas vidas e aprender que tudo acaba se modificando naturalmente. Os melhores momentos se tornarão eternos nas fotos, ingressos, notas fiscais, bilhetes de passagem e, principalmente, na sua memória. Os piores, bem, alguns você vai usar para criar uma espécie de barreira protetora. Outros, simplesmente deixar pra lá.

Agora é hora de aceitar e encarar essa nova fase. É hora respirar fundo e dar todo o seu máximo. Transforme a palavra “problema” em “desafio”. Só assim vai ver que, sejam grandes ou pequenas, no final das contas você terá uma série de superações. Sabe aquele seu maior sonho? Aquele que você pede em silêncio todas as noites antes de dormir? Aquele que você tem certeza de que, se acontecer, todo o resto se tornar muito mais fácil? Então, ele vai se realizar. Em 2015, você vai estudar em um lugar incrível, com pessoas incríveis. Um lugar onde você vai poder fazer o que mais ama na vida, e ainda ganhar horas de “Estudos Independentes”, junto com novos amigos, e uma série de elogios. Um lugar onde você vai perder o medo da bola e vai começar a amar fazer parte de um time. Um lugar que vai te levar pra outros lugares, inclusive pra outra cidade. Tudo vai ser diferente, mas, acredite, o frio na barriga vai desaparecer logo no segundo dia. Quando os problemas do passado se tornarem motivo de piada. Quando você perceber que nenhum sonho é grande demais. Quando, enfim, junho de 2015 chegar. 

Me explica

segunda-feira, 23 de março de 2015

Achei que o primeiro texto que eu fosse escrever pra você seria sobre como estava gostando de te ter do meu lado. Na verdade, eu até tentei. No seu aniversário. E no que seria pro nosso aniversário. Perdi a conta de quantas frases soltas escrevi nas últimas páginas do meu caderno. Perdi a conta de quantas vezes senti ódio de mim mesma por não conseguir fazer algo tão simples. Talvez não fosse. Mas é que tudo parecia ser. Era só uma ligação, um boa noite, um sorriso, uma provocação, uma ironia, um motivo, um encontro no meio do dia, e pronto, tudo ficava melhor. Aquela sensação ficava em mim por tanto tempo, e eu fazia questão de tentar deixar todo mundo ao meu redor tão feliz quanto. Como se fosse possível. Não havia nada capaz de se tornar questionável. Não havia nada que talvez me fizesse mudar de ideia, ou pensar que um dia fosse me deixar assim. Assim como? Já explico.

Hoje, um mês e um dia depois da madrugada em que me dei conta de que era com você que eu queria ficar, consegui abrir uma página em branco para lotar com palavras e, principalmente, com interrogações. É que eu queria entender o que está acontecendo. Foi de repente. Não diria nem do dia pra noite, mas da manhã pra tarde. Quando você disse algo completamente ao contrário do que eu estava esperando ouvir. E então não disse mais nada. Parece que tudo à minha volta ficou mudo. Só conseguia ouvir o som da minha própria respiração. Só conseguia pensar que havia alguma coisa errada.

Não vou negar nem tentar disfarçar. Desde aquele momento não estou sendo eu mesma. Um medo maior do que qualquer outro que de vez em quando sinto surgiu aqui dentro. Medo do silêncio. De ter que me controlar. De ter que pensar antes de falar. De viver e não compartilhar. De chorar sozinha. De rir sozinha. De tudo ficar só na memória. Não, por favor. Eu sei que não tá tudo bem. Só me explica. Se eu não entender, te garanto, com certeza não vai me ver em estado deplorável, ou qualquer outro adjetivo que possa definir a situação que normalmente alguém se mantém enquanto a dor não passa. Eu não tô louca. Ou eu tô? Me explica. E depois volta a ser como era antes. Eu sei que dá.

O primeiro mês de vida nova

sexta-feira, 20 de março de 2015

CAMANDUCARNA 



Hoje faz um mês que o carnaval acabou. E pela primeira vez em anos, eu não entrei em nenhuma DPC (depressão pós carnaval). Por que????? Porque esse carnaval nem foi tão legal assim??? NÃO!Muuuuito pelo contrário. Não sei como o carnaval de Camanducaia consegue me surpreender a cada ano, sendo cada vez melhor. Os shows são sempre iguais, mas alguma coisa sempre muda. Acho que sou eu, ou meus primos, meus amigos, pessoas novas que aparecem e de repente mudam tudo, a hora certa no lugar certo, as músicas que fazem os momentos se tornarem eternos, ou tudo isso junto. Não sei. Só sei que é algo que me faz fechar os olhos e querer agradecer.

Mas o que aconteceu foi o seguinte: eu sabia que depois daqueles dias maravilhosos, diferente de todos os outros anos, eu NÃO teria que voltar à vida de acordar cedo e ter aula de matemática, física, química, biologia, com todo aquele bombardeamento de conteúdo e decoreba, porque... ESSA VIDA NÃO ME PERTENCE MAIS!!! HAHAHAHA. Eu sabia que, depois daqueles dias maravilhosos, o que estaria por vir seria tão surpreendente quanto. E foi.



Dia 23 de fevereiro começaram as atividades na FEUSP. A primeira semana foi a "calourada", com gincanas, palestras, apresentações, conversas em grupo, visita ao museu e muitos tours pelo campus. Nunca andei tanto na minha vida hahaha. Logo no primeiro dia, almocei no bandejão com as veteranas que conheci no dia da matrícula. Fui adotada pela Jéssica, que agora é minha mãe, e também ganhei duas tias hahaha. No final de semana, fomos na Wood's, e acabei conhecendo mais meninas da BATEDUCA, a bateria da FE, e também do time de Hand. Me animei pra entrar nos dois. 

Na semana seguinte, as aulas começaram de verdade. Minhas matérias são:

Segunda: Sociologia da Educação
Terça: Didática
Quanta: Fundamentos Econômicos da Educação
Quinta: História da Educação
Sexta: Filosofia da Educação
 
Por enquanto, minha preferida é a de sociologia. A professora é uma fofa, e a aula é muito boa mesmo.
Tem muuuita gente diferente na minha sala. Tem um professor de física (que por acaso foi colega do meu professor do ensino médio!!!), de história, português, educação física, tem gente que já começou outros cursos e acabou largando, tem gente que já trabalha em creche ou na educação infantil, tem uma menina que quer ser escritora de livros infantis, tem um mágico (!!!) que trabalha em festa de criança... mas também tem muita gente como eu, na primeira graduação.

Também na segunda semana, comecei a ir nos ensaios da bateduca (nas terças feiras) e nos treinos de hand (nas segundas e quintas). Mas eu já sabia que não ia poder jogar hand no BICHUSP, porque ia ser num sábado, dia de reunião no Bandeirante. Quando contei pro meu irmão, ele começou o discurso de "como assim, a irmã do diretor da LAAUSP não vai jogar??? Que vergonha, Anita, que vergonha!!" hahaha. Massss, conversando com umas meninas, descobri que no domingo ia ser o basquete feminino, e o time da Educação estava precisando de mais gente. Então, me inscrevi. E foi MUITO divertido. Jogamos contra o time de Educação Física da EEFE, então é ÓBVIO que não ganhamos hahaha mas foi lindo, todo mundo fez sexta e vai, 22 a 17 nem é tanto assim!! hahahaha

Agora aqui estou eu, digitando no computador da biblioteca da FE. O ar condicionado é bem gelado. São 18:10, e às 18:30 tenho uma reunião com o novo grupo de teatro da professora de filosofia. Mais uma coisa nova. Ai, também queria contar que já encontrei um mooonte de gente que passou pela minha vida em diferentes épocas e situações, e que agora também estuda aqui na USP. Já encontrei no bandejão, no CEPE, na fila pra pegar o circular... Gente que já fez parte da minha rotina e que eu nem lembrava mais que existia, e gente que fazia falta e que agora felizmente não vai mais fazer. Mais uma coisa que me faz ter certeza de que a vida é mesmo uma caixinha de surpresas. Acho que essa é a frase que eu mais tenho falado ultimamente. Sei lá. Vou pra reunião antes que eu me atrase. Tchau!!! :)

VIDA, LOUCA VIDA!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015




OI MUNDO!!!

Eu me afastei, né? Não tô falando só do blog. Por muito tempo abdiquei de uma porção de coisas que eu considerava serem essenciais na minha vida... mas agora, parece que tudo mudou. Sinto que vou fazer tudo que sempre quis. Ou quase tudo. Um passo de cada vez, certo?

Dezembro foi um mês turbulento. As aulas no Rumo, onde estudei durante cinco anos, acabaram e eu me senti totalmente... sem rumo (aquele trocadilho clááássico que todo mundo faz). Foi muito difícil acreditar/aceitar que eu não teria mais aquelas pessoas ao meu redor todos os dias. 2014 foi bom demais. Foi a melhor sala que eu tive na vida. Foi a primeira vez que senti que podia ser eu mesma, o tempo todo. Eu falava o que eu queria, na hora que eu queria, com quem eu queria, saia cantando pelos corredores... e me sentia querida. E a prova disso foi quando fui escolhida pra ser oradora. Eu? Uma das piores alunas da sala? Que não conseguia tirar nem 3 numa prova de orgânica? Que pegava recuperação igual surfista pega onda (o gatinho brasileiro campeão do mundo, claro)? Foi uma surpresa enorme. Fingi que não era grande coisa na hora, mas quando cheguei em casa contei pra minha mãe e chorei de felicidade - e tô chorando agora lembrando. Eu sei que nunca vou esquecer as coisas que passei em 2014. E nunca vou deixar de usá-las de alguma forma pelo resto da minha vida. 

Mas, continuando...

A convocação para a segunda fase da FUVEST saiu, e meu nome estava lá. Me matriculei no Anglo da Tamandaré. E os dias que se passaram foram praticamente iguais. Eu acordava cedo, sozinha, ia pro Anglo, dava umas risadas com os professores (todos muito bons, sério), e ficava lá na sala de estudos até quase dez da noite focada em um objetivo. Mas quando eu chegava em casa, deitava na minha cama e olhava no meu celular a conversa do grupo da minha sala do Rumo. Chorava até não ter mais lágrima pra cair, e finalmente conseguir dormir. Eu me senti tão sozinha. Não queria ficar em casa de jeito nenhum. Teve um dia que fui no Centro Cultural da Vergueiro pra estudar, mas acabei subindo direto pro terraço. Fiquei lá em cima, olhando as pessoas passando e imaginando como era a vida de cada uma delas. Naquele mesmo dia, fui com uma amiga (amiga do rolê da Manu, que ainda está longe da época de vestibular e não me perguntou nada sobre como estava indo minha preparação) na apresentação de uma amiga nossa na escola de teatro musical Teen Broadway. Foi aí que surgiu uma vontade enorme em mim de acabar logo com tudo e poder fazer o que eu queria de verdade. Uma vida sem fórmulas, sem decoreba, sem desespero.

O primeiro dia de prova chegou. Foi lindo. Senti vontade de deixar um beijo de batom no final da minha redação. Citei Hobbes. Rousseau. Vidas Secas. Saí mega confiante. Daí veio o segundo dia, e a insegurança começou. No terceiro então... Mas ok. Acabou. O que tiver que ser, será. Passei mais uma semana em São Paulo resolvendo as pendências do ano. E quando eu não aguentava mais todo mundo me perguntando "e aí, acha que deu???", fiz minha mala e fui pro meu refúgio preferido do mundo.

Passei quase um mês em Camanducaia. Foi tão bom! Mas não só porque matei saudade dos meus primos e amigos e tive momentos, como sempre, muito loucos e engraçadíssimos. Esse tempo todo me fez perceber como a vida pode ser boa de um jeito completamente diferente do modelo de perfeição que eu tinha. Entrar na USP, fazer intercâmbio, ir pros EUA... isso é incrível. Mas morar numa cidade onde se pode confiar de verdade nas pessoas, onde não existe gente morando na rua,  onde todo mundo se junta na praça pra festejar qualquer coisa que seja, onde você não precisa ligar antes de ir na casa de alguém, onde você nunca se sente sozinho porque sempre vai encontrar algum conhecido na rua que vai te perguntar como vai a vida e a sua família, também é incrível. 

Na segunda feira, dia 9 de fevereiro, acordei as 11 e meia da manhã. Arrumei a casa, joguei fora as garrafas e latas de bebida que estavam espalhadas, levei a roupa suja pra Dona Ditinha, que mora na rua de cima, comi alguma coisa, tomei banho, e fiquei assistindo as fitas de Anos Incríveis, esperando a hora do meu primo chegar pra gente ir numa loja comprar coisas pro Carnaval. Ele chegou, eu abri o portão e fui procurar meu chinelo. Nisso, o telefone tocou. Era meu irmão.

"Anita, você viu que saiu outra chamada?" 
"Não, não vi"
"Você passou"

Sentei no chão. Terminei a conversa, desliguei, e comecei a berrar "RODRIGO, EU PASSEI!" 
"Na USP? Tá rica, hein!" (expressão atualmente muito usada por camanducaenses para falar de pessoas que passam por situações legais, tipo pegar alguém gato, trocar de celular, ou, no caso, passar na faculdade dos sonhos)

Naquela mesmo dia, fui pra academia com minhas amigas fazer aula de Zumba. Dancei com toda a vontade do mundo. O professor passou a coreografia de Na Batida, Piradinha, e mais uns axés muito bons. Toda a minha felicidade foi convertida em energia pra me acabar.

Voltei pra São Paulo no dia seguinte, no ônibus das 6:20. Encontrei meu irmão no metrô e ele foi comigo até a Secretaria de Educação pegar uns documentos. E hoje, fui com ele pra USP fazer minha matrícula. Ele me deixou na porta da Faculdade de Educação (meu novo lar <3) e falou "se vira, tô indo pra FEA, tô atrasado" hahaha. Mas deu tudo certo. Meu trote foi muito amor. Conheci três veteranas que pintaram meu rosto, escreveram "PEDAGO DO AMOR" e "FEUSP" nos meus braços, e também levaram eu e mais duas meninas pra festa da POLI. Comemos cachorro quente e ficamos um pouco lá conversando.

Na volta, passei na La Brea, a loja que eu trabalhei nas férias do ano passado (ops, retrasado). As meninas me viram toda pintada e foram correndo me abraçar. Fizeram a maior festa. Ai, foi tão lindo hahaha que saudade que eu tava delas! Em casa também teve festa. A Mary, minha vizinha/tia/segunda mãe, até chorou. Ah, e o telefone que não parou de tocar? E o Whatsapp? Os comentários na foto do Face e do Instagram? Até a primeira professora que eu tive na vida viu e me deu parabéns. Muito mais do que no meu aniversário. É emocionante ver outras pessoas vibrando com a nossa própria conquista.

E é isso. Agora aqui estou eu, com um baita sorriso no rosto, agradecendo por ter a vida que tenho e muito, muuuuito ansiosa para o que está por vir.